domingo, 22 de agosto de 2010

Rock de Garagem: Banda Reticências (Sob Meu Depoimento)

Reticências foi uma banda de garagem formada na Próspera, bairro de Criciúma, Sul de Santa Catarina, da qual tive o orgulho de fazer parte.

Só quem faz ou fez parte de uma banda de garagem sabe a quantidade de histórias que se tem pra contar.


Meios de Transporte Utilizados Pela Banda



Então vou contar um pouco da história deste grupo que se formou no início dos anos 90, mais precisamente no ano de 1993.

A idéia era fazer algo por puro prazer, não se passava pela nossa cabeça o plano de se ganhar dinheiro com a música. Considerávamos que isto seria muito difícil e que exigiria além de muito esforço e talento, um bom investimento. Éramos cientes das grandes dificuldades para se chegar ao sucesso e principalmente para mantê-lo.


O Começo

No início a banda tinha seis integrantes e nenhum sabia tocar nada. O primeiro baterista comprou seu instrumento, que pelo estado em que se encontrava, deveria ter passado por umas vinte bandas de trash do mais pesado. O tecladista encomendou um teclado do Paraguai e o seu maior aprendizado com este instrumento foi fazer um “solinho” de um axé famoso da época e que por isso acabava sempre arrancando muitos risos da galera.

O baixista e os dois guitarristas também compraram seus instrumentos, porém, em melhores condições.

Os ensaios aconteciam aos sábados e domingos no porão da tia e vizinha de um dos músicos, o Julinho. Começavam sempre no início da tarde e duravam de 5 a 8 horas (pro desespero da vizinhança).


Fazendo Barulho

Na cara e na coragem, o pessoal começou a aprender a tocar. Ninguém entrou em escola de música. Começaram a pegar uma dica aqui, outra ali e com muita persistência, aos poucos se ia aprendendo alguma coisa.

A maior dificuldade foi com o baterista que pouco tempo depois acabou desistindo. Outras mudanças aconteceriam na formação até o dia em que pintaram dois músicos realmente muito bons, um baterista (Douglas) e um guitarrista (Evan). Surgiu também a oportunidade para que eu, após cantar Wasting Love do Iron Maiden em uma performance sem grandes pretensões, fosse convidado para ser o segundo vocalista.


Os Ensaios

Entre as bandas que tinham músicas no nosso repertório estavam Capital Inicial, Titãs, Engenheiros do Hawai, Replicantes, Raul Seixas, Billy Ídol, Creedance, Ramones, Ugly Kid Joe, Nirvana, 4 Noon Blondes, Guns n´Roses, U2 e  Metallica.

Em alguns casos fazíamos algumas invenções que agradavam a quem ouvia, como por exemplo, emendar as músicas Strange to Endure e Pet Sematary (ambas do Ramones) e misturar as duas versões de Polly do Nirvana, iniciando na versão do álbum Nevermind e continuando com a do Inseticide.


Evan



Os Shows

O primeiro show do Reticências foi num salão paroquial onde a maioria da galera presente não era nada "teen", e o pior é que enquanto o show acontecia, ao mesmo tempo também rolava um bingo em que os prêmios eram frangos assados e como o som se misturava com o anúncio dos números sorteados, entre uma música e outra alguém gritava: “Anuncia o ganhador aí Lobão”, se referindo ao Julinho que tinha cabelos longos e que na época era um dos guitarristas e vocalista da banda.



Julinho


Mais tarde vieram outras apresentações em escola, centros comunitários e o maior dos shows, o da Profest, a primeira edição de uma festa com apresentações culturais diversas que acontecia na Praça do Trabalhador, no bairro Próspera, onde a maioria dos integrantes morava e ensaiava.


Praça do Trabalhador


Na a noite de 11 de junho de 1994, o frio era intenso, mas a praça estava lotada. Estávamos muito tensos, nunca havíamos tocado para tanta gente. Já passava da meia-noite quando subimos ao palco. Enquanto o pessoal ajustava os instrumentos, eu olhava para a platéia me perguntando: O que é que eu estou fazendo aqui?


Eduardo

Havíamos ensaiado bastante 8 músicas, não acreditávamos que tocaríamos por muito tempo já que haveria uma outra apresentação depois da nossa, porém havíamos combinado mais duas, caso houvesse tempo.


Lista Original Utilizada no Show

Começamos a apresentação tocando Kamikaze do Capital inicial, uma música pouco conhecida, mas que gostávamos muito. Em seguida tocamos Creedance, Ramones até que chegou a vez de Everything About You do Ugly Kid Joe, quando a corda de uma das guitarras arrebentou bem na hora do solo. Levamos a música até o fim, até que no intervalo antes da próxima música, tive que superar ainda mais a timidez falando alguma coisa improvisada à platéia, enquanto o guitarrista trocava o seu instrumento.

Até o momento, o público só assistia, mas não se via ninguém abandonando a praça, então recomeçamos o show tocando Poly do Nirvana que numa versão nossa começávamos lentamente somente com guitarra e voz e na segunda parte entrava o baixo e a bateria e a música virava uma verdadeira pauleira e foi justamente neste momento que assistimos uma galera se incendiando. Uns balançavam a cabeça loucamente, enquanto teve uma outra turma que saiu correndo subindo e descendo um pequeno morro que havia na lateral da praça e empurrando uma cadeira de roda na qual havia um rapaz que apesar das suas limitações físicas, agitava muito. Este foi um momento que jamais esqueci.

Daí pra frente o show ficou bastante agitado até que na oitava música resolvemos parar, foi então que o apresentador pediu que continuássemos. Tocamos mais duas, e só não tocamos mais porque não queríamos arriscar com músicas que não havíamos ensaiado tanto.

Ao final do show, quando descíamos do palco, uma mulher que eu jamais havia visto, nos esperava aplaudindo e dizendo: Vocês foram demais!
Esta foi outra imagem que eu jamais esqueci. Ouvir isto de um estranho era como um prêmio para nós.

Após este show a banda prosseguiu por mais algum tempo até que aos poucos foi se desfazendo. Não há nenhuma filmagem ou foto desta formação reunida. Não éramos ligados nisto. O que ficou, além da camiseta da banda, da lista com as músicas tocadas na Profest e de algumas revistas das quais tirávamos as notas e as letras, está apenas na lembrança.


Douglas

Algumas Revistas Utilizadas

Camiseta da Banda

Foi um momento muito especial e que jamais esquecerei. Perdi o contato com alguns integrantes, mas guardo carinhosamente na memória a imagem de cada um destes que foram grandes parceiros e que ajudaram a construir esta que foi uma das melhores partes da minha vida até aqui.


Integrantes da Época

Bateria: Douglas
Baixo: Julinho
Guitarra: Mazinho
Guitarra: Evan
Vocal: Eduardo

Um comentário:

  1. Dae, Eduardo!!!

    Gostei do registro...
    Pelo menos um...
    Já que não há registros desta fase...

    Sinto falta desta época tb...
    Acumulamos muitas histórias
    no pouco tempo de banda...
    Lembra da vez que tocamos no sete???

    Abraços!!!

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