Nos idos de 1997, uma empresa brasileira de eletrodomésticos lançou o slogan "Produtos feitos para durar". Como consumidor achei aquela frase tão atraente que jamais esqueci. Ao meu ver, nada poderia ser tão inteligente para conquistar novos clientes em termos de propaganda. Mesmo assim, acho que naquela época não cheguei a comprar nenhum produto daquela marca, então não sei dizer se eles falavam a verdade. A verdade aliás, é que a marca ainda existe, o slogan, não mais. Talvez a exemplo de seus concorrentes, tenham percebido que produtos de longa duração são iguais a vendas limitadas. Ou, quem sabe, perceberam que entre produtos de boa qualidade e preços amargos, e de qualidade inferior com preços adocicados, grande parte dos consumidores preferia a segunda opção como no caso dos produtos made in China. Afinal, "o importante é complar balato né", ainda que seja simplesmente para consumir mais e satisfazer o desejo de ter. Algo que não nasceu conosco, mas que é reflexo da ideia de consumismo que surgiu há décadas nos Estados Unidos pelas mãos de Edward Bernays, sobrinho de Sigmund Freud. Baseado em um livro do tio, o publicitário entendeu que as pessoas são manipuláveis e pôs isto à prova quando durante um grande evento fez com que algumas mulheres fumassem cigarros próximo a equipes de imprensa. A ideia era fazer com que o público feminino passasse a fumar e que com isso alavancasse o consumo, já que a indústria do tabaco estava em decadência. Com as imagens divulgadas pelos meios de imprensa, as vendas dispararam. O cigarro que era visto como um símbolo masculino passou a ser consumido também pelas mulheres. Começava aí uma nova fase da publicidade. Bernays passou a trabalhar também para o governo, influenciando em algumas decisões políticas e sempre envolvido com a manipulação das massas. O consumismo passaria a se espalhar pelo mundo e grande parte dos fabricantes se tornariam adeptos da obsolescência programada (produto feito para durar pouco). Esta estratégia também cobraria um preço com o passar do tempo. Em 2012 a humanidade já estava consumindo 30% mais do que o planeta é capaz de repor. Para atender ao ego coletivo a natureza nos fornece todo o tipo de matéria-prima que devolvemos como lixo e pedindo mais. Esta mesma natureza num futuro não muito distante talvez venha a nos dar o limite que não encontramos em nós mesmos.
Idec - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Disponível em: . Acesso em 29 de julho de 2017.
The Century of the Self (Happiness Machines). Direção: Adam Curtis. Produção: BBC. Documentário, 58'17". Disponível em: Acesso em: 26 de julho de 2017.
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