domingo, 29 de março de 2020

Vida Inteligente na Música Brasileira: Chico Buarque

Se fosse para demonstrar toda a genialidade de Chico Buarque de Hollanda, seria necessário dividir o conteúdo em vários posts. Mesmo assim, segue um pouco da obra deste grande nome da música brasileira. 



A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou... 
(Roda Viva)

Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão 
(Geni e o Zepelim)

Deus me deu pernas compridas
E muita malícia
Pra correr atrás de bola
E fugir da polícia 
(Partido Alto)

Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não 
(A Moça do Sonho - em parceria com Edu Lobo)

Que no coração de Bia
Meninos não têm lugar
Porém nada me amofina
Até posso virar menina
Pra ela me namorar 
(Blues para Bia)

Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas 
(Dueto)

Entre suspiros pode outro nome dos lábios te escapar
Terei ciúme até de mim
No espelho a te abraçar 
(Tua Cantiga - em parceria com Cristóvão Bastos)

Tem que bater, tem que matar
Engrossa a gritaria
Filha do medo, a raiva é mãe da covardia
Ou doido sou eu que escuto vozes
Não há gente tão insana
Nem caravana do Arará 
(As Caravelas)

Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria 
(Apesar de Você)

Todo dia eu só penso em poder parar
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão 
(Cotidiano)

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego 
(Construção)

Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado 
(Cálice - em parceria com Gilberto Gil)

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