A pirotecnia tem origem milenar: o conceito dos fogos de artifício é mais antigo que a própria descoberta da pólvora.
No século II a.C., na China, era comum jogar pedaços de bambu-verde em fogueiras durante festividades. A planta tem bolsas de ar no interior do caule que se formam durante o crescimento, e quando jogada no fogo, essas bolsas incham e estouram, gerando um som de estalo. Os chineses acreditavam que esse barulho alto espantava maus espíritos – até hoje as comemorações de Ano-Novo por lá contam com fogos e estalinhos para afastar os espíritos e começar bem o ano.
A química ainda não existia como ciência na época, e a pólvora – principal componente do fogo de artifício – foi descoberta na China apenas no século IX, quando um alquimista chinês juntou, acidentalmente, salitre, enxofre e carvão e aqueceu a mistura (a pólvora tem uma composição típica de 75% de nitrato de potássio, 15% de carvão e 10% de enxofre). Os primeiros mestres pirotécnicos eram, na verdade, alquimistas que mantinham em segredo as suas receitas geradoras de fogos coloridos.
Aliás, a coloração que vemos durante a queima dos fogos é produzida a partir do uso de diferentes sais em reação ao calor liberado nas explosões da pólvora. O vermelho, por exemplo, é produzido utilizando-se sais de estrôncio ou de lítio. Já o laranja, em geral, é produzido a partir dos sais de cálcio, entre eles o cloreto de cálcio. Para o amarelo, é usado o cloreto de sódio, para o verde, o cloreto de bário e o azul vem do cloreto de cobre.
Parte desses sais é encontrada na natureza e obtidos diretamente pela extração ou mineração. Outros precisam ser produzidos e fornecidos pelas indústrias de cloro-álcalis utilizando-se diferentes metodologias, entre elas o processo conhecido como eletrólise, que consiste na passagem de corrente pela salmoura, solução de água e de sais.
Nem todos se alegram com a queima de fogos, especialmente pessoas do espectro autista e animais que possuem uma audição apurada, como os cães. Por conta disso, muitas cidades têm restringido esta prática. Mas isso não significa o fim do espetáculo. Há diversas opções de fogos que produzem apenas efeitos visuais, sem estampido ou com barulho de baixa intensidade.
Além dos bem conhecidos problemas de segurança, a beleza dos fogos de artifício tem outro senão: a poluição. E há esforços no sentido de encontrar a fórmula adequada para um fogo de artifício mais amigo do ambiente. Assim, em alguns espetáculos, os foguetes são enviados para o ar graças a um sistema de gás compressor, o que evita a utilização da pólvora no momento do lançamento. Desta forma, diminui a libertação de gases poluentes como o NOx, CO e SOx. Também os percloratos utilizados como explosivos no interior das estrelas são identificados como prejudiciais à saúde humana e, por isso, os químicos têm procurado substituí-los.
Os compostos com elevada percentagem de nitrogênio, como os derivados do triazol e da tetrazina (FIGURA 3), ou de oxigênio, como a nitrocelulose, têm-se revelado muito eficazes nesta área, proporcionando quase sempre uma combustão completa, praticamente sem libertação de fumos – o que permite diminuir também a quantidade de sais e intensificadores de cor utilizados. Tudo para que seja possível admirar um espetáculo de fogo de artifício, livre de sentimentos de culpa!
Referências:
https://www.abiclor.com.br/fogos-de-artificio-o-espetaculo-dos-cloretos/
https://rce.casadasciencias.org/rceapp/art/2019/011/
https://super.abril.com.br/historia/os-primeiros-fogos-de-artificio-eram-bolsoes-de-ar-estourando-em-caules-de-bambu
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