quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

A Normalização Das Doenças Mentais E A Falta De Amparo


É cada vez mais comum pessoas precisarem de algum tipo de medicamento para poder dormir algumas horas de sono, ou para tratar doenças como depressão, ansiedade e outros tipos de transtornos mentais. Um dos maiores problemas que portadores destas doenças enfrentam, além dos sintomas, é atualmente a normalização patológica. As pessoas já começaram a se acostumar com o fato do transtorno de ansiedade se tornar corriqueiro. Já estão normalizando a situação e minimizando o problema. Não importa se está todo mundo doente, mais ansioso ou sofrendo com algum transtorno. Não faz diferença quem sofre mais ou menos, pois a doença está sendo vista como algo normal e isso é muito perigoso.

Existe uma quantidade muito grande de pessoas que desenvolveram quadros de ansiedade e depressão. Além daquelas que já tiveram esse problema antes da pandemia e, mesmo com a situação controlada, voltaram a ter crises mais frequentes e intensas. Há estimativa de aumento de 25% dos casos em todo o mundo, fato direto que expõe o adoecimento populacional. E isso tem agravado, principalmente, na saúde mental de crianças e adolescentes.

O despreparo da sociedade e até mesmo de parte de alguns profissionais da saúde traz ainda mais sofrimento quando esses resolvem achar que estão ajudando dizendo frases como: "você é forte", "você é jovem", "você tem tudo", "tem gente em situação bem pior". 

A exigência social de que a pessoa esteja sempre em sua melhor forma transforma oscilações emocionais naturais, como a angústia e a ansiedade, em problemas que precisam ser erradicados. Porém, esses sentimentos só constituem transtornos mentais quando se tornam incapacitantes para a pessoa durante um longo período.

A pessoa saudável é incapaz de compreender a intensidade e permanência do sofrimento do outro, pois a depressão que ela diz ter experimentado não foi da mesma maneira e intensidade. A consequência da banalização dos transtornos mentais, nesses casos, é o afastamento. O doente perde cada vez mais esperança de ser compreendido e fica isolado.

Enquanto o menosprezo social atua sobre as doenças mentais, o sofrimento cresce. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal causa de incapacidade no mundo é a depressão, com uma estimativa de mais de 300 milhões de doentes. Além disso, cerca de 60 milhões de pessoas no mundo sofrem com transtorno afetivo bipolar. Já a esquizofrenia afeta em torno de 23 milhões de pessoas em todo o planeta.

O relatório também mostra que uma pessoa comete suicídio a cada quatro segundos no mundo. Isso corresponde a 800.000 mortes por ano. Os dados são referentes a 2016 e o número é superior aos óbitos por malária, câncer de mama, guerra ou homicídio e significa “um sério problema de saúde pública global”. O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo, atrás apenas de acidentes de trânsito. Há evidência que sugere que, para cada pessoa que morre por suicídio, há estimativa de que outras 20 pessoas tentam cometê-lo.

Além de tudo, existe ainda por parte do portador de transtornos mentais, a dificuldade em se manter empregado e até mesmo de conseguir algum benefício. É o caso de C.E., profissional do norte de Santa Catarina, demitido após ter sofrido uma crise de pânico na empresa em que trabalhava. Ainda que tenha se aberto com seu chefe e dito que já estava iniciando um tratamento, o desligamento foi inevitável. 

Mesmo com o laudo médico e psicológico apontando as doenças que o impediam de trabalhar, ainda assim, por duas vezes os peritos negaram o auxílio-doença, ignorando completamente a opinião do psiquiatra e da psicóloga. Agora C.E. se encontra sem condições de trabalhar, tomando medicamentos caros e sem um amparo do governo. O mesmo alega que a situação tem se agravado bastante com a atual situação e que pensamentos como morte têm surgido como "solução" para os seus problemas.

Referências:

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/na-america-latina-brasil-e-o-pais-com-maior-prevalencia-de-depressao

https://lacosfaesa.com.br/2022/11/04/a-normalizacao-das-doencas-mentais/

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